quinta-feira, 30 de maio de 2013

Kevin Carter: o limite entre o profissional e o humano




Quando convocado para cobrir mais uma guerra, dessa vez no Sudão, Kevin Carter foi equipado com sua melhor máquina em busca de mais fotos que retratassem as constantes guerras civis. E foi quando se deparou com a cena de um garoto caído e logo atrás dele um abutre. Kevin enquadrou a foto com perfeição, fez a fotografia e...

É a partir deste momento que muitas dúvidas surgem. O que teria feito o fotógrafo após tirar a foto? Algumas fontes dizem que ele espantou o abutre, outras que simplesmente virou as costas e foi embora. A única coisa que podemos afirmar é que a criança foi deixada assim como ela estava, enquanto Kevin se retirava.

Após vender esta mesma foto pra o The New York Times e vê-la estampar a capa dos jornais, Carter sofreu pressão popular quanto a sua atitude. Logo depois de publicarem a foto, pessoas mandavam cartas e ligavam para a redação do jornal questionando o atual estado da criança e, após Kevin declarar que não a tinha ajudado, a população martirizou-o e o rotulou como desumano.


Em uma entrevista para a revista American Photo, declara que “Essa foi a minha foto de maior sucesso, depois de dez anos como fotógrafo, mas não quero pendurá-la na parede. Eu a odeio”. E mesmo após ganhar o prêmio Pulitzer (uma espécie de Oscar da fotografia), se rendeu aos desaforos.

Muitos profissionais defendem e elogiam o profissionalismo de Kevin, como seu colega de fotojornalismo, Marinovich: “Tragédias e violência certamente geram imagens poderosas. É para isso que somos pagos. Mas cada uma dessas fotos tem um preço: parte da emoção, da vulnerabilidade, da empatia que nos torna humanos se perde cada vez que o obturador é disparado. Evidente que em grau maior, trata-se da mesma banalização que nos acomete ao olhar os jornais diariamente: há abismos demais.”

Carter passou anos fotografando guerras civis na África, vendo de perto a miséria e o desespero. Seu lado profissional falou mais alto e seu lado humano, provavelmente, estava sendo destruído aos poucos. Seria isto justificativa para o abandono da criança? A situação em que o Sudão se encontrava já teria entrado para sua realidade e o feito insensível para tais fatos? Muitas questões permeiam o íntimo desta fotografia. Porém, não podemos negar o quão genial ela é, e a maneira com que expressa e sintetiza todo sofrimento sentido por aquela povo. 

Postado por Camila Fencz

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