Quando convocado para cobrir mais uma guerra, dessa vez no Sudão, Kevin Carter foi equipado com sua melhor máquina em busca de mais fotos que retratassem as constantes guerras civis. E foi quando se deparou com a cena de um garoto caído e logo atrás dele um abutre. Kevin enquadrou a foto com perfeição, fez a fotografia e...
É a partir deste momento que muitas dúvidas surgem. O que teria feito o fotógrafo após tirar a foto? Algumas fontes dizem que ele espantou o abutre, outras que simplesmente virou as costas e foi embora. A única coisa que podemos afirmar é que a criança foi deixada assim como ela estava, enquanto Kevin se retirava.
Após vender esta mesma foto pra o The New York Times e vê-la estampar a capa dos jornais, Carter sofreu pressão popular quanto a sua atitude. Logo depois de publicarem a foto, pessoas mandavam cartas e ligavam para a redação do jornal questionando o atual estado da criança e, após Kevin declarar que não a tinha ajudado, a população martirizou-o e o rotulou como desumano.
Em uma entrevista para a revista American Photo, declara que “Essa foi a minha foto de maior sucesso, depois de dez anos como fotógrafo, mas não quero pendurá-la na parede. Eu a odeio”. E mesmo após ganhar o prêmio Pulitzer (uma espécie de Oscar da fotografia), se rendeu aos desaforos.
Muitos profissionais defendem e elogiam o profissionalismo de Kevin, como seu colega de fotojornalismo, Marinovich: “Tragédias e violência certamente geram imagens poderosas. É para isso que somos pagos. Mas cada uma dessas fotos tem um preço: parte da emoção, da vulnerabilidade, da empatia que nos torna humanos se perde cada vez que o obturador é disparado. Evidente que em grau maior, trata-se da mesma banalização que nos acomete ao olhar os jornais diariamente: há abismos demais.”
Carter passou anos fotografando guerras civis na África, vendo de perto a miséria e o desespero. Seu lado profissional falou mais alto e seu lado humano, provavelmente, estava sendo destruído aos poucos. Seria isto justificativa para o abandono da criança? A situação em que o Sudão se encontrava já teria entrado para sua realidade e o feito insensível para tais fatos? Muitas questões permeiam o íntimo desta fotografia. Porém, não podemos negar o quão genial ela é, e a maneira com que expressa e sintetiza todo sofrimento sentido por aquela povo.
Postado por Camila Fencz
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